quarta-feira, 14 de março de 2007

Jovens... um outro Movimento é necessário e possível

Nestes dias estou em São Leopoldo, uma cidade de mais ou menos 250 mil habitantes, que fica no sul do país, bem próxima da capital Porto alegre. Junto com dezoito pessoas de vários estados do Brasil e uma da Argentina, formamos o grupo do Curso de Especialização em Juventude Contemporânea, da Unisinos. Na primeira semana os estudos foram sobre os jovens no contexto neoliberal pós-moderno. É isso mesmo, esta coisa difícil.
No meio da semana um fato nos surpreendeu, uma notícia chocante nos abalou: Pai mata filho (jovem) por causa do uso de droga. No dia seguinte a esta notícia, li em um site na internet o resultado de uma pesquisa que foi publicada por uma revista de circulação nacional sobre uma pesquisa mostrando que 329 jovens foram mortos de janeiro a dezembro de 2003 no estado de Alagoas, e que várias mortes haviam sido cometidas por policiais civis e militares.
Diante destes fatos, me pus a perguntar: O que está acontecendo? Será que a saída para os problemas da juventude está em eliminar os/as jovens? A reflexão sobre o contexto neoliberal pós-moderno que fizemos estes dias deixa claro algumas coisas que diante destes acontecimentos quero chamar a atenção de todos/as e principalmente dos/as jovens.
Analisando o sistema que aí está, fica claro que há uma trama inteligentemente armada contra a vida. O nome desta trama: Sistema Capitalista Neoliberal, pensado e articulado por forças poderosas, ricos de vários países, representados explicitamente pelos banqueiros, latifundiários, empresários das multinacionais e das tecnologias... Este sistema é movido pela produção em alta escala, pelo consumismo desenfreado e pelo lucro. Para isso não se importam em destruir a natureza, desvalorizar as pessoas e valorizar as máquinas, criar sementes em laboratórios, encher os produtos de veneno, sem se preocupar se isso faz bem ou mal à saúde, ao planeta, à vida...
As conseqüências disso: Uma grande desigualdade social. Muita riqueza concentrada e muita miséria espalhada – é a EXCLUSÃO SOCIAL. Só no Brasil são mais de 50 milhões de pessoas na miséria, excluídas. Esses/as são marcados/as pela falta de comida, de trabalho, de casa, de saúde, de educação, de lazer... Esta situação tem levado muitas pessoas ao desespero, ao suicídio, à morte, a relações violentas, à busca pelas drogas como alternativas, busca do prazer e, muitas vezes, como alimento para um corpo com fome de muitas coisas: carinho, comida e de direitos que nunca tiveram.

As pesquisas apontam que desses excluídos grande parte são mulheres, crianças e jovens e a maioria negros. Ou seja, os/as excluídos/as têm idade, gênero e cor. Diante deste movimento neoliberal gerador de exclusão, o que será que pode ser feito? Esta é uma pergunta que também está em mim. E acredito que esta pergunta devemos fazê-la juntos/as e não sozinhos/as para que no desespero não corramos o risco de achar uma única saída que com certeza não é a melhor (por exemplo, o pai que mata o próprio filho).
O problema não é único, nem é de uma pessoa, nem de um grupo (da juventude). O problema na verdade são somas de vários problemas e que portanto exige de nós não um movimento isolado, mas sim um Outro Movimento – Movimentar Com, com outros/as. É preciso fazer um movimento contrário ao que está imposto pelo capitalismo neoliberal, que destrói e paralisa.
Nosso movimento precisa ser articulado, organizado. Eu já consigo vê-lo acontecendo, faço memória dos vários espaços onde vi a juventude presente se movimentando junto, numa diversidade cultural, social, étnica... por um outro jeito de pensar e de fazer ações que possam modificar a realidade: o Fórum Social Mundial e Brasileiro; as conferências locais, estaduais e nacionais; o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; as organizações de luta contra a ALCA; os movimentos culturais populares como o hip hop, capoeira; grafiteiros etc., a semana da juventude que aconteceu em Brasília (setembro/2003) com jovens de todo o país onde se discutiu sobre as Políticas Públicas para, de e com a juventude; as Pastorais da Juventude que têm priorizado em suas reflexões essas políticas e os espaços de controle social por acreditar que esta é uma ação conjunta que deve ser gestada também pelos jovens.

A esperança na mudança está aí e se alimenta desta novidade que se desenha pelas várias forças que se colocam juntas para encontrar outras alternativas, outros sistemas – projetos que gerem vida, que sejam solidários, sensíveis e, principalmente, que sejam construídos com um desejo comum: o de que todas as pessoas sejam respeitadas na sua diferença e iguais nos seus direitos.
Depois de séculos o nosso país vive um momento muito importante e fértil para que a sua gente e a sua juventude se organize e faça "Um Outro Movimento" que seja de fortalecimento das organizações populares, dos movimentos sociais. Lugares de onde brotam as saídas para um Outro Brasil, para Um Outro Mundo, para Um Outro Jeito de Viver.
JOVENS, juntos/as é possível fazer um Outro Movimento pela VIDA!


[Por Vanildes Gonçalves dos Santos, a partir de reflexões feitas na disciplina Os Jovens no contexto neoliberal pós-moderno. Unisinos, janeiro de 2004]

sábado, 3 de março de 2007

TRECHOS DE ARTIGOS: FILOSOFIA JOVEM – SER CIDADÃO/Ã – GRUPOS DE JOVENS

Thomas Kesselring,

professor e filósofo, de Berna, Suíça.


ENTREVISTA- É possível juvenilizar a Filosofia para que seja acessada por um maior número de jovens?


Thomas: Com certeza é possível, pelo simples fato de que para fazer filosofia, em primeiro lugar, é necessário ser curioso. Ter uma certa perserverança na pesquisa das coisas.


O que é a Filosofia? A Filosofia é colocar perguntas... de uma maneira meio sistemática as perguntas sobre qualquer coisa, inclusive sobre coisas que parecem ser naturais; entender-se a si mesmo. Na Ciência, as grandes descobertas, na maioria das vezes, foram feitas por jovens pesquisadores.


Quando Einstein desenvolveu a Teoria da Relatividade ele era muito novo. Os pesquisadores jovens que não conhecem ainda as regras, as disciplinas que não podem ser questionadas, eles fazem as grandes descobertas.


Os jovens e as crianças que ainda não perderam a curiosidade estão aptos à Filosofia. A idade da juventude é a idade da Filosofia mesmo. Mas é preciso exercitar isso com os professores nas aulas. Normalmente o professor se acostuma a ter razão, a colocar perguntas e pedir aos alunos que apenas respondam, que não coloquem perguntas. Eles não estabelecem um diálogo, nem entre eles e a criança e nem entre as crianças mesmas. E justamente isto deveria ser feito: um diálogo guiado, supervisionado pelo professor.

Carolina Herrmann,

da ONG Amigos da Terra.

Endereço Eletrônico: amigosdaterra@natbrasil.org.br

Site: www.natbrasil.org.br


Existe um método próprio de o jovem se tornar um cidadão/cidadã ou isto acontece naturalmente?


Carolina: Cada um tem a sua rotina, seu trabalho. Não existe uma regra. Talvez se fosse criada uma regra, alguns não se encaixariam. Penso que a consciência ambiental deva partir de cada pessoa, dentro da sua realidade, da sua rotina de trabalho, do seu potencial enquanto consumidor, tomar atitudes mais sustentáveis.


Cada pessoa pode deitar no seu travesseiro e pensar: “bom, amanhã vou acordar e ao invés de fazer tal coisa, fazer a outra que é mais sustentável, como economizar água, separar o lixo...”


Dou ênfase à questão individual porque acredito que seja a partir da consciência individual que acaba se criando o coletivo. Então eu diria que o jovem precisa se dar conta de que tem “tudo a ver com isto”, que precisa fazer a sua parte, por menor que pareça, jamais deixar de fazer as coisas corretamente porque outra pessoa não faz. Se um colega não faz, eu faço. Isso é importante. Cada um deve ter a sua atitude consciente. De repente, esta atitude vai contagiando outras pessoas, influencia de forma positiva as pessoas da família, os amigos e o coletivo acaba se fazendo a partir daí.

Grupo de jovens, uma boa idéia ?:?


A falta de tempo para conviver em grupo, o trabalho que deixa o jovem cansado e ocupado, a escola que ensina a ser individualista, a televisão que diz para não se importar com a vida do outro, são desafios para a nucleação e organização de grupos de jovens da Pastoral da Juventude.


Como responder positivamente a esta realidade? Como “ir contra a maré”, dizendo não à forma de viver que é imposta aos jovens pelo mundo dos adultos e suas instituições (a escola, a família, a televisão...)?


É preciso resgatar o jeito jovem de ser: alegre, que enfrenta riscos, utópicos, esperançosos... Características que o mundo está roubando dos jovens, através da imposição de um jeito de ser triste, descrente, fechado, individualista e consumista.


Como ser expressão desse novo jeito de ser? Como cultivar o carinho, o diálogo sincero, a amizade que ajude a amadurecer e ser feliz?


Quem sabe faz a hora...



Os grupos de jovens estão aí. São muitos. Muito maior ainda é o número de jovens que não estão participando de nenhuma organização ou movimento, dentro ou fora da Igreja.


Há jovens que se gastam no trabalho e sonham o sonho impossível, que os meios de comunicação e a propaganda colocam em suas cabeças para que acreditem - e se iludam - que o mundo pode ser feito de “charme, mordomias e luxo”.


Outros, gozam os privilégios de quem tem dinheiro, saúde, acesso à educação e tempo, desligados do alto preço que custam à sociedade, aos trabalhadores.

Há também aqueles que sabem que, “quem sabe faz a hora, não espera acontecer”. Buscam a realização de um sonho possível ou impossível, de uma sociedade justa que se faz à medida que arregaçam as mangas e se pôem a lutar.

Aí, talvez, reside o maior valor de um grupo de jovens. São jovens que não se conformam com as coisas do jeito que estão. “Desconfiam” que algo está errado e que é preciso juntar-se a outros jovens para mudar.


Em todo bairro, escola, trabalho, comunidade, se encontram jovens desejosos de fazer algo. São jovens que acreditam na amizade e na solidariedade e, por isso, estão dispostos a partilhar seu trabalho, suas forças.

São estes jovens que a Pastoral da Juventude procura descobrir, ajudando-os a se relacionarem de modo que, progresivamente, vão tendo consciência da necessidade do grupo de jovens.


O valor do grupo


Os grupos de base são grupos que se reúnem freqüentemente para a reflexão. Se comprometem na oração e ação. São grupos de vida, onde todos têm voz e vez. Cada grupo de jovens tem (e deve ter) sua própria maneira de ser. Não existe um modelo pronto, para ser copiado. O desenvolvimento das reuniões e encontros, por exemplo, possui características diversas em cada grupo, o que vai delineando a sua fisionomia.


Existem, porém, alguns elementos importantes para que ocorra crescimento no grupo. São elementos indispensáveis a todos os grupos de base, e que dão valor a este modelo de organização:

- Um grupo de jovens é um grupo de amigos, unidos pela mesma fé.

- A amizade, o conhecimento interpessoal, a acolhida e a compreensão do outro só podem crescer em pequenos grupos.

- A consciência e a participação só nascem onde cada um é importante, pode falar, escutar e dar a sua opinião.

- As novas lideranças, capazes de intervir na Igreja e na sociedade, nascem e crescem nos grupos organizados, onde cada decisão e atividade é pensada e decidida coma opinião de todos.

- A formação integral do jovem tem, no grupo de jovens, um espaço privilegiado.
- No grupo, na comunidade, o jovem toma consciência de que a fé é mais do que apenas “ir à missa”. a espiritualidade do seguimento de Jesus, descobre, leva ao compromisso com os irmãos.

- A ação planejada, no grupo de base, facilita a participação de todos.

É bonito ver o jovem que faz uma caminhada com o grupo, crescendo na fé, no relacionamento com o outro e consigo mesmo, na consciência crítica e na ação prática. Neste último aspecto, no entanto, acredito que precisamos ser mais criativos e ousados. Faltam aos grupos de jovens, ações concretas. É preciso dar um passo a mais. Descobrir “bandeiras de luta” que sejam atraentes e mobilizem os jovens, nas diferentes realidades em que vivem. Mãos à obra, com criatividade e coragem.



QUESTÕES PARA DEBATE


1 - Quais são as principais pressões que fazem com que o jovem se acomode?
2 - Como o jovem reage aos apelos dos individualismo e consumismo da nossa sociedade?
3 - Quais são os principais elementos indispensáveis para manter um grupo de jovens?


Rui Antonio de Souza,

Artigo publicado na edição 257, novembro de 1994, página 3.


Fonte:

Jornal Mundo Jovem