Nestes dias estou em São Leopoldo, uma cidade de mais ou menos 250 mil habitantes, que fica no sul do país, bem próxima da capital Porto alegre. Junto com dezoito pessoas de vários estados do Brasil e uma da Argentina, formamos o grupo do Curso de Especialização em Juventude Contemporânea, da Unisinos. Na primeira semana os estudos foram sobre os jovens no contexto neoliberal pós-moderno. É isso mesmo, esta coisa difícil.
No meio da semana um fato nos surpreendeu, uma notícia chocante nos abalou: Pai mata filho (jovem) por causa do uso de droga. No dia seguinte a esta notícia, li em um site na internet o resultado de uma pesquisa que foi publicada por uma revista de circulação nacional sobre uma pesquisa mostrando que 329 jovens foram mortos de janeiro a dezembro de 2003 no estado de Alagoas, e que várias mortes haviam sido cometidas por policiais civis e militares.
Diante destes fatos, me pus a perguntar: O que está acontecendo? Será que a saída para os problemas da juventude está em eliminar os/as jovens? A reflexão sobre o contexto neoliberal pós-moderno que fizemos estes dias deixa claro algumas coisas que diante destes acontecimentos quero chamar a atenção de todos/as e principalmente dos/as jovens.Analisando o sistema que aí está, fica claro que há uma trama inteligentemente armada contra a vida. O nome desta trama: Sistema Capitalista Neoliberal, pensado e articulado por forças poderosas, ricos de vários países, representados explicitamente pelos banqueiros, latifundiários, empresários das multinacionais e das tecnologias... Este sistema é movido pela produção em alta escala, pelo consumismo desenfreado e pelo lucro. Para isso não se importam em destruir a natureza, desvalorizar as pessoas e valorizar as máquinas, criar sementes em laboratórios, encher os produtos de veneno, sem se preocupar se isso faz bem ou mal à saúde, ao planeta, à vida...
As conseqüências disso: Uma grande desigualdade social. Muita riqueza concentrada e muita miséria espalhada – é a EXCLUSÃO SOCIAL. Só no Brasil são mais de 50 milhões de pessoas na miséria, excluídas. Esses/as são marcados/as pela falta de comida, de trabalho, de casa, de saúde, de educação, de lazer... Esta situação tem levado muitas pessoas ao desespero, ao suicídio, à morte, a relações violentas, à busca pelas drogas como alternativas, busca do prazer e, muitas vezes, como alimento para um corpo com fome de muitas coisas: carinho, comida e de direitos que nunca tiveram.
As pesquisas apontam que desses excluídos grande parte são mulheres, crianças e jovens e a maioria negros. Ou seja, os/as excluídos/as têm idade, gênero e cor. Diante deste movimento neoliberal gerador de exclusão, o que será que pode ser feito? Esta é uma pergunta que também está em mim. E acredito que esta pergunta devemos fazê-la juntos/as e não sozinhos/as para que no desespero não corramos o risco de achar uma única saída que com certeza não é a melhor (por exemplo, o pai que mata o próprio filho).
O problema não é único, nem é de uma pessoa, nem de um grupo (da juventude). O problema na verdade são somas de vários problemas e que portanto exige de nós não um movimento isolado, mas sim um Outro Movimento – Movimentar Com, com outros/as. É preciso fazer um movimento contrário ao que está imposto pelo capitalismo neoliberal, que destrói e paralisa.
Nosso movimento precisa ser articulado, organizado. Eu já consigo vê-lo acontecendo, faço memória dos vários espaços onde vi a juventude presente se movimentando junto, numa diversidade cultural, social, étnica... por um outro jeito de pensar e de fazer ações que possam modificar a realidade: o Fórum Social Mundial e Brasileiro; as conferências locais, estaduais e nacionais; o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra; as organizações de luta contra a ALCA; os movimentos culturais populares como o hip hop, capoeira; grafiteiros etc., a semana da juventude que aconteceu em Brasília (setembro/2003) com jovens de todo o país onde se discutiu sobre as Políticas Públicas para, de e com a juventude; as Pastorais da Juventude que têm priorizado em suas reflexões essas políticas e os espaços de controle social por acreditar que esta é uma ação conjunta que deve ser gestada também pelos jovens.
A esperança na mudança está aí e se alimenta desta novidade que se desenha pelas várias forças que se colocam juntas para encontrar outras alternativas, outros sistemas – projetos que gerem vida, que sejam solidários, sensíveis e, principalmente, que sejam construídos com um desejo comum: o de que todas as pessoas sejam respeitadas na sua diferença e iguais nos seus direitos.
Depois de séculos o nosso país vive um momento muito importante e fértil para que a sua gente e a sua juventude se organize e faça "Um Outro Movimento" que seja de fortalecimento das organizações populares, dos movimentos sociais. Lugares de onde brotam as saídas para um Outro Brasil, para Um Outro Mundo, para Um Outro Jeito de Viver.
JOVENS, juntos/as é possível fazer um Outro Movimento pela VIDA!
[Por Vanildes Gonçalves dos Santos, a partir de reflexões feitas na disciplina Os Jovens no contexto neoliberal pós-moderno. Unisinos, janeiro de 2004]
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